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Está claro que o fenômeno é geral e atinge mulheres dos 20 aos 50, pelo menos. Mas o que há por trás dele? A antropóloga Liliane Brum Ribeiro diz que existe uma ligação entre a cirurgia plástica e a construção do modelo de feminilidade. Em sua tese de doutorado, na Universidade de Santa Catarina, ela foi a campo entrevistar mulheres de todas as idades e classes sociais que fizeram intervenções. Entre os discursos sobre a decisão de mudar o corpo, ela ouviu que os peitos são o maior diferencial entre os gêneros. “Uma das moças pesquisadas me disse que ‘bumbum todo mundo tem, mas seios, só as mulheres’. É uma forma de ressaltar quanto se é feminina. Isso constitui um valor fundamental nos dias de hoje”, diz. Algumas mulheres chegam ao êxtase com o aumento da mama. A atriz Sthefany Brito, de 21 anos – conhecida como a noiva do jogador de futebol Alexandre Pato –, depois de avolumar o visual com 220 mililitros nos seios, declarou à imprensa que “berrou de felicidade” ainda na cama do hospital.
96 milbrasileiras colocaram silicone em um ano
Quando essa forma de ressaltar a feminilidade tornou-se socialmente perceptível, no início dos anos 1990, era preciso coragem para enfrentar os bisturis. As próteses usadas eram as chamadas “lisas”. O gel interno era quase líquido e a tendência era de a membrana que o revestia, muito fina, romper. Complicações eram comuns. Uma das maiores era a contratura capsular, o famoso enrijecimento do silicone, que fazia a membrana estourar. “As próteses lisas deixavam as pacientes descontentes. Era preciso mexer toda hora”, diz o cirurgião plástico carioca Luiz Haroldo Pereira, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Em meados da década de 1990, vieram as próteses texturizadas e as revestidas de poliuretano, que, segundo os médicos, têm índices de contratura de 5%. “Atualmente, usamos de cinco a seis membranas de revestimentos e o silicone é bastante coeso. Mesmo se a prótese furar, não vai derramar nenhum líquido”, afirma Pereira.
A evolução dos recursos de diagnóstico também deu mais segurança a quem quer fazer implante. Até alguns anos atrás, o silicone atrapalhava a detecção precoce do câncer no seio. Hoje, com a ressonância magnética, isso não acontece. “Na maioria das vezes, a prótese é colocada debaixo do tecido mamário, não submuscular. A mama fica mais para a frente e, possivelmente, há ainda mais facilidade de se sentir um nódulo mais denso”, diz Ângela Carvalho Maximiano, cirurgiã plástica do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Custo facilitado e segurança maior, no entanto, não valeriam nada se não fosse a mudança do desejo feminino. Nos últimos 12 anos, segundo a SBCP, os implantes quadruplicaram, resultado de um vagaroso processo de mudança de padrão ocorrido nas décadas anteriores. Do modelo morena-farta-de-bumbum-grande-e-peito-pequeno, que construiu mitos como Sônia Braga, Claudia Raia e Valéria Valenssa, a Globeleza, as mulheres passaram a almejar seios grandes e cabelos claros num corpo cada vez mais magro. “As mulheres não querem mais ficar com a mama desproporcional ao quadril”, diz o atual presidente da SBCP, José Tariki. Segundo ele, há dois perfis crescentes: mulheres entre 30 e 40 anos que querem recompor o volume, depois da gravidez, e adolescentes de 17, 18 anos que não tiveram a mama desenvolvida.
Autora do livro Corpo a corpo com a mulher: pequena história das transformações do corpo feminino do Brasil, a historiadora Mary Del Priore destaca dois acontecimentos que contribuíram para construir o novo padrão. Primeiro, a invasão da Barbie no Brasil, nos anos 80. Com ela veio o modelo de corpo americano, com cintura fina e peitão, formando a estética das meninas. Ao mesmo tempo, a difusão do body building, que começou com os vídeos de ginástica de Jane Fonda, trouxe a noção de que o corpo feminino era algo que poderia ser construído. “Estamos vendo a americanização do corpo da mulher brasileira”, afirma a historiadora.
Está claro que o fenômeno é geral e atinge mulheres dos 20 aos 50, pelo menos. Mas o que há por trás dele? A antropóloga Liliane Brum Ribeiro diz que existe uma ligação entre a cirurgia plástica e a construção do modelo de feminilidade. Em sua tese de doutorado, na Universidade de Santa Catarina, ela foi a campo entrevistar mulheres de todas as idades e classes sociais que fizeram intervenções. Entre os discursos sobre a decisão de mudar o corpo, ela ouviu que os peitos são o maior diferencial entre os gêneros. “Uma das moças pesquisadas me disse que ‘bumbum todo mundo tem, mas seios, só as mulheres’. É uma forma de ressaltar quanto se é feminina. Isso constitui um valor fundamental nos dias de hoje”, diz. Algumas mulheres chegam ao êxtase com o aumento da mama. A atriz Sthefany Brito, de 21 anos – conhecida como a noiva do jogador de futebol Alexandre Pato –, depois de avolumar o visual com 220 mililitros nos seios, declarou à imprensa que “berrou de felicidade” ainda na cama do hospital.
96 milbrasileiras colocaram silicone em um ano
Quando essa forma de ressaltar a feminilidade tornou-se socialmente perceptível, no início dos anos 1990, era preciso coragem para enfrentar os bisturis. As próteses usadas eram as chamadas “lisas”. O gel interno era quase líquido e a tendência era de a membrana que o revestia, muito fina, romper. Complicações eram comuns. Uma das maiores era a contratura capsular, o famoso enrijecimento do silicone, que fazia a membrana estourar. “As próteses lisas deixavam as pacientes descontentes. Era preciso mexer toda hora”, diz o cirurgião plástico carioca Luiz Haroldo Pereira, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Em meados da década de 1990, vieram as próteses texturizadas e as revestidas de poliuretano, que, segundo os médicos, têm índices de contratura de 5%. “Atualmente, usamos de cinco a seis membranas de revestimentos e o silicone é bastante coeso. Mesmo se a prótese furar, não vai derramar nenhum líquido”, afirma Pereira.
A evolução dos recursos de diagnóstico também deu mais segurança a quem quer fazer implante. Até alguns anos atrás, o silicone atrapalhava a detecção precoce do câncer no seio. Hoje, com a ressonância magnética, isso não acontece. “Na maioria das vezes, a prótese é colocada debaixo do tecido mamário, não submuscular. A mama fica mais para a frente e, possivelmente, há ainda mais facilidade de se sentir um nódulo mais denso”, diz Ângela Carvalho Maximiano, cirurgiã plástica do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Custo facilitado e segurança maior, no entanto, não valeriam nada se não fosse a mudança do desejo feminino. Nos últimos 12 anos, segundo a SBCP, os implantes quadruplicaram, resultado de um vagaroso processo de mudança de padrão ocorrido nas décadas anteriores. Do modelo morena-farta-de-bumbum-grande-e-peito-pequeno, que construiu mitos como Sônia Braga, Claudia Raia e Valéria Valenssa, a Globeleza, as mulheres passaram a almejar seios grandes e cabelos claros num corpo cada vez mais magro. “As mulheres não querem mais ficar com a mama desproporcional ao quadril”, diz o atual presidente da SBCP, José Tariki. Segundo ele, há dois perfis crescentes: mulheres entre 30 e 40 anos que querem recompor o volume, depois da gravidez, e adolescentes de 17, 18 anos que não tiveram a mama desenvolvida.
Autora do livro Corpo a corpo com a mulher: pequena história das transformações do corpo feminino do Brasil, a historiadora Mary Del Priore destaca dois acontecimentos que contribuíram para construir o novo padrão. Primeiro, a invasão da Barbie no Brasil, nos anos 80. Com ela veio o modelo de corpo americano, com cintura fina e peitão, formando a estética das meninas. Ao mesmo tempo, a difusão do body building, que começou com os vídeos de ginástica de Jane Fonda, trouxe a noção de que o corpo feminino era algo que poderia ser construído. “Estamos vendo a americanização do corpo da mulher brasileira”, afirma a historiadora.
Fonte: revista Época
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